'Tenho que seguir em frente' diz viúvo de uma das mulheres que comeu bolo envenenado no RS
12/01/2025
Em entrevista à RBS TV, Jefferson Luiz Moraes descreve como a família passou mal imediatamente após comer bolo envenenado. Mulher está presa por suspeita do crime. Jefferson Luiz Moraes, viúvo de Maida, uma das vítimas do bolo envenenado em Torres, no RS
Reprodução/RBS TV
Na primeira entrevista que concedeu após a tragédia do bolo envenenado, que matou sua esposa e outras duas mulheres da própria família, Jefferson Luiz Moraes, 60 anos, descreve os últimos momentos das vítimas e relata que busca forças para continuar.
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"Agora tem que seguir em frente. Tá muito difícil. Eu tenho que reconstruir tudo de novo. E ainda bem que eu tenho dois trabalhos, então eu vou focar no trabalho. Porque quando eu começo a trabalhar, então eu consigo dar uma desligada", lamenta.
Jefferson era casado com Maida Berenice Flores da Silva, que morreu aos 58 anos após comer o bolo antes do feriado de Natal. Neuza Denise Silva dos Anjos, irmã de Maida, e Tatiana Denise dos Anjos, filha de Neuza, também vieram a óbito.
Vítimas do caso do bolo em Torres
Reprodução/RBS TV
Zeli dos Anjos, irmã de Maida e Neuza, preparou o bolo, chegou a ficar internada, mas sobreviveu e teve alta do hospital. Sua nora, Deise Moura dos Anjos, está presa por suspeita de envenenar o bolo com arsênio, devido a desavenças com a sogra. Leia o posicionamento da defesa dela abaixo.
Junto com as irmãs, estava uma criança de 10 anos, filho de Tatiana, e João, marido de Neuza (o único que não comeu o bolo) no apartamento em Torres, no Litoral Norte do RS.
Deise não estava presente. Segundo Jefferson, Zeli e os demais parentes chegaram por volta das 14h do dia 23 de dezembro. O bolo foi partido e dos sete presentes, seis comeram.
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Bolo envenenado foi recolhido ao Instituto Geral de Perícias (IGP)
Reprodução/RBS TV
O gosto forte foi sentido imediatamente, diz Jefferson. "Gosto ardido, ácido, parecia gengibre", conta. A cobertura de açúcar mascarou um pouco, relata. E em minutos, todos os que tinham comido começaram a passar mal.
"Quando a Zeli comeu, ela já se levantou, sentou na cadeira, ficou inquieta. Daí a Neuza foi comer, deu uma mordida, a segunda, a Zeli disse 'não, não come, porque não tá legal esse bolo'. Foi então que Zeli saiu correndo e começou a vomitar.
Jefferson conta que Tatiana e Maida passaram mal, mas não vomitaram. Ele acredita que quem vomitou, sobreviveu. "Só tá vivo quem, desculpe falar, vomitou. Quem não vomitou não tá vivo", disse.
Ele e Maida se conheceram em um CTG, há 32 anos. E costumavam viajar pelo Brasil em um motorhome. Faltava conhecer só dois estados: Amapá e Roraima.
"A gente tava num momento muito bacana. Filhos não tinha, mas a questão familiar, financeira, conjugal, saúde, lazer, social, intelectual, tava tudo na harmonia, sabe? É um buraco que fica. Minha cara-metade foi", finaliza.
A Polícia Civil investiga o crime, e Deise Moura dos Anjos está presa temporariamente. A investigação apura se ela também está envolvida na morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos. Ele faleceu em setembro. Inicialmente, acreditou-se que ele havia sido vítima de intoxicação alimentar. Porém, perícia após a exumação do corpo demonstrou a presença de arsênio, mesma substância encontrada nas vítimas que comeram bolo.
Neuza e Maida, duas irmãs que comeram bolo envenenado no RS, em foto durante show do Roberto Carlos
Reprodução/RBS TV
'Essa menina é do mal', disse vítima
Segundo Jefferson, Maida não tinha apreço por Deise Moura dos Anjos, nora de sua irmã Zeli e presa por suspeita do envenenamento. "'Essa menina é do mal' ela [Maida] dizia, sabe?", relata o viúvo.
Deise não frequentava a casa de Jefferson e Maida. Quando o marido de Zeli, Paulo dos Anjos, morreu, a família chegou a desconfiar de Deise.
"A gente não levou adiante [a desconfiança]. Talvez o filho, porque levou a banana, poderia ter ficado chateado, então a gente também não quis magoar. Mas nós tínhamos combinações de não comer nada que viesse de lá [de Deise]. Porque a gente tava muito desconfiado já", diz.
Amiga relata ameaças a Zeli
Uma amiga da familia, que preferiu não se identificar, procurou a Polícia no dia do velório de Tatiana. Registrou um boletim de ocorrência, contando o que ouviu de Tatiana, dois dias antes de ela comer o bolo envenenado e morrer.
"Relatei essa desconfiança, a questão das ameaças que ela [Deise] fez pra Zeli, que a Tati me falou. Ela explicou tudo isso, contou a história da mensagem que a Deise mandou pra Zeli, dizendo que ainda vai ver toda a família dentro de um caixão", afirma.
A amiga relembra que a relação de Deise com a sogra sempre foi conturbada, e que as desconfianças se voltaram contra ela depois da morte de Paulo.
Ela acredita que Deise sentia inveja da relação entre Zeli, as irmãs e a sobrinha Tatiana, que cresceu junto com o primo Diego, filho de Zeli.
"Acho que era inveja dessa união, as três eram muito unidas, era muito bonita a relação das três irmãs", diz.
Nota da defesa da suspeita
As declarações divulgadas na coletiva de imprensa ainda não foram judicializadas no procedimento sobre o caso, assim a Defesa aguarda a integralidade dos documentos e provas para análise e manifestação.
A Defesa já realizou requerimentos e esclarecimentos no inquérito judicial, referentes aos andamentos da investigação, aguarda neste momento decisão judicial.
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